sábado, 31 de outubro de 2009

A Mulher Papa

Meus amigos, saiu hoje no jornal O GLOBO, da jornalista Graça Magalhães, uma reportagem sobre uma lenda medieval da alemã Joana que virou Papisa. Vale a pena ler esta reportagem:

"Uma das histórias mais controvertidas da Igreja Católica volta a ser discutida com um filme recém-lançado na Europa e que chega em dezembro ao Brasil. 'A Papisa Joana' conta a vida de uma alemã da Idade Média que, vestida de homem, teria se tornado Papa. De sua existência não se tem provas concretas ou documentos formais - mas muitos santos, como São Jorge, estão na mesma situação. Mito para alguns, verdade para outros, a Papisa Joana voltou, trazend consigo a discussão sobre o papel da mulher na Igreja.
Para a teóloga alemã Elisabeth Gösmann, que foi colega de universidade de Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, é impossível dizer com certeza se a papisa Joana existiu ou se a sua história é uma lenda.
- É difícil separa a ficção dos fatos históricos porque figura de Joana foi manipulada diversas vezes no passado - diz ela.
O filme de Sönke Wortmann é baseado no livro escrito pela americana Donna Woolfolk Cross em 1996, um romance tendo por base documentos históricos da Idade Média. Mas a história da mulher que viveu em uma aldeia alemã, numa época em que meninas eram proibidas de aprender ler e escrever,continua a fascinar muita gente.
O filme começa como o livro, no inverno do ano de 814, quando nasce Joana, como a terceira depois de dois filhos homens. O pai era um padre de aldeia, um homem autoritário, espancador, enquanto que a mãe tinha o destino normal das mulheres da Idade Média, ter filhos e cuidar do fogão.
Quando Joana (interpretada por Johanna Wokalek) demonstrou não ficar satisfeita com um destino idêntico ao da mãe e começou a mostrar que era inteligente, tendo aprendido a ler e a escrever, foi espancada pelo pai. Depois, quando conseguiu ter acesso a uma escola, foi hostilizada por professores e alunos. Ela recebeu ajuda apenas do conde Gerold (vivido por David Wenham).
Depois de concluir que como mulher não teria nenhuma chance na sociedade, Joana decidiu vestir-se de homem, adotar o nome de Johannes Anglicus e ingressar no mosteiro de Fulda. Como homem, sua inteligência e conhecimentos eram respeitados e não motivo de hostilidade. Na versão de Cross, Joana aprendeu medicina com os monges. Outras fontes negam, porém, que a futura papisa tenha adquirido tais conhecimentos.
Na versão mostrada no filme, quando Johannes foi para Roma, tornou-se o principal conselheiro do Papa Sergius, gravemente enfermo, por causa dos seus conhecimentos médicos. Quando este morreu, ela foi surpreendida ao ser eleita Papisa. Segundo a versão do filme, Joana viveu dois anos e meio como Papa João VIII. O seu segredo só foi descoberto quando ela, grávida de Gerold, que encontrou mais tarde em Roma, caiu do cavalo com as dores do parto.
Em um livro de 800 páginas que escreveu em 1994, dois anos antes do lançamento do bestseller da americana Donna Cross, Gösmann analisa detalhadamente todos os documentos existentes sobre a suposta papisa, deste o texto de Jean de Mailly, de meados do século XIII.
Trata-se da 'Chronica Universalis Mettensis', onde o dominicano francês Jean Mailly escreve sobre a existência de uma papisa Joana no século IX, que teria começado a sofrer dores de parto durante uma procissão. Ao tomar conhecimento de que o Papa era uma mulher, ela foi apedrejada por uma multidão furiosa. Duas décadas mais tarde, o também dominicano Martin von Troppau escreveu sobre uma Joana que teria sido Papa entre os anos de 855 e 858.
Outro indício da existência da papisa e da crise que teria causado na Igreja Católica, seria o hábito introduzido no final do século IX de teste do sexo do Papa. Só depois da comprovação do sexo masculino do Papa eleito, seu nome era oficializado. A cerimônia de teste de sexo teria existido até o século XVI.
No seu livro, Donna Cross tenta provar que a existência da papisa Joana foi admitida pela Igreja durante oito séculos.Só no século XVII, a Santa Sé teria apagado dos compêndios todas as referências próprias sobre a papisa. Na época do auge do protestantismo, uma mulher como Papa na sua história oficial era visto pela Igreja Católica como um possível alvo de ataques dos protestantes.
Donna Cross documenta em notas que acompanham o livro que a Igreja Católica tirou de circulação centenas de livros e manuscritos para apagar qualquer marca da papisa. Mas restaram algumas fontes. Em 'Livro Papal', que contém a cronologia de todos os Papas, desde o século V, e que ainda estaria na biblioteca do Vaticano, há uma referência ao pontificado da papisa Joana.
Gabriele Mendelssohn, diretora do Museu Histórico de Ingelheim, diz que na cidade não há nenhuma pista que indique que um dia viveu ali uma mulher que se vestiu de padre para conquistar o Vaticano.
Elisabeth Gössmann diz que a história da papisa, verdade ou lenda, é importante para mostrar a situação adversa às mulheres que ainda existe na Igreja Católica. Ela foi uma das primeiras na Alemanha a adquirir o título de doutora em teologia. Segundo ela, até há pouco tempo a Igreja não permitia que textos de mulheres teólogas fossem usados em citações. Mas ela admite que a situação melhorou com o seu ex-colega, o Papa Bento XVI.
- Eu me lembro que antigamente, quando nos preparávamos para o doutorado em teologia, ele não tinha nada contra mulheres teólogas - conclui."
[O GLOBO, sábado, 31 de outubro de 2009, Sessão CIÊNCIA, página 35].
DOMINUS VOBISCUM !!!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Irmã de Fidel era a 'agente Donna" da CIA

Bem, meus amigos, estamos retornando ao trabalho com o blog "O Mundo é História", usando como base a reportagem do jornal "O Globo" sobre a irmã dos irmãos Castro, Juanita, que era agente da CIA durante a década de 1960, espionando os irmãos, líderes da Revolução Cubana. Veja a reportagem:
"Por anos, a CIA esteve infiltrada na família Castro. Esta semana, uma das irmãs de Fidel e Raúl, Juanita, fez uma revelação que ela mesma definiu como seu 'segredo mais bem guardado': atuou a serviço da agência americana contra o governo de seus irmãos em Cuba antes de ir para o exílio, em 1964, no México e em Miami. No domingo, Juanita disse numa entrevista que foi chamada a colaborar para a CIA por Virgínia Leitão da Cunha, mulher do então embaixador brasileiro em Havana, Vasco Leitão da Cunha. E no livro 'Fidel e Raúl, meus irmãos - A história secreta', lançado ontem nos EUA e em alguns países hispânicos, conta detalhes de sua vida dupla como 'agente Donna'.
O segredo da relação de Juanita com o arqui-inimigo do irmão Fidel teria sido guardado por seis pessoas por 48 anos. De 1961 a 1964, ela conta que abrigou dissidentes em sua casa por ter se desencantado com a Revolução - que ela ajudara arrecadando fundos - devido à violência de prisões, fuzilamentos e confiscos de propriedades privadas. Quando se aliou à CIA, Juanita estava construindo clínicas e hospitais. A última vez em que falou com Fidel foi em 1963, no enterro da mãe, que a apoiava, e, com Raúl, em 1964.
Na entrevista ao canal hispânico da rede Univisión, em Miami - onde se radicou e, até dois anos atrás, mantinha uma farmácia - Juanita falou à jornalista María Antonieta Collins, coautora do livro:
- Comecei a me desencantar quando vi tanta injustiça. Tínhamos a tendência de culpar os subalternos, mas as ordens vinham de cima, de Fidel, de Che e de Raúl - disse Juanita, hoje aos 76 anos, segundo o jornal 'El País'.
Ela narra ainda como foi chamada para trabalhar para a CIA por Virgínia Leitão da Cunha, mulher do então embaixador do Brasil em Havana, e, mais tarde, chanceler brasileiro, Vasco Leitão da Cunha. E conta que o primeiro contato com a CIA se deu semanas após a frustrada tentativa de invasão da Baía dos Porcos, pelos EUA. Juanita diz que ela e Virgínia viajaram ao México em junho de 1961, separadamente, para se reunir com Tony Sforza, um especialista sobre Cuba na agência, no Hotel Camino Real. Como pretexto para a viagem, Juanita alegou que visitaria a irmã Emma.
Segundo Juanita, Sforza, de codinome Enrique, era peça-chave no Projeto Cuba, a maior operação da CIA contra a ilha. Ele atuava infiltrado em Cuba como jogador em cassinos. No encontro, ela teria dito que só aceitaria ser espiã se lhe garantissem que não participaria de atividades violentas contra o irmão. 'Senti remorso por trair Fidel ao concordar em encontrar os seus inimigos? Não, por uma simples razão: eu não o traí. Ele me traiu', diz no livro, 'Traiu milhares de nós que sofremos e lutamos por uma Revolução que ele ofereceu, generosa e justa, e que traria paz e democracia a Cuba'.
A primeira missão da 'agente Donna', seu codinome, teria ocorrido dias depois, quando ela regressou a Cuba trazendo latas de conserva cheias de mensagens e dinheiro para os homens da CIA na ilha. Depois, comunicava-se com a Agência por rádio: uma valsa e a abertura da ópera 'Madame Butterfly' eram os sinais usados pela CIA para mostrar que havia novas instruções para Juanita.
Juanita deixou Cuba em 1964, após Raúl Castro lhe ter dito que havia uma investigação contra ela - sem dar indícios, porém, de que o governo desconfiasse de suas ligações com a CIA. Raúl a ajudou a preparar a viagem de exílio para o México, onde Juanita escreveu um comunicado rompendo oficilamente com a Revolução.
No livro 'Fidel e Raúl, meus irmãos - A história secreta', Juanita Castro conta como Vasco Leitão da Cunha e sua mulher, Virgínia, haviam oferecido asilo a muitos revolucionários durante a ditadura de Fulgencio Batista, derrubado por Fidel em 1959. Segundo Juanita, ela mesma foi acolhida pelo casal, que inicialmente simpatizara com o governo de Fidel, mas teria - assim como Juanita - se decepcionado com o passar do tempo. Vasco foi embaixador na representação diplomática brasileira em Havana entre 1956 e 1961.
Filha do casal, Isabel Gurgel Valente confirmou ao GLOBO que a casa da família em Havana costumava abrigar revolucionários no período, mas disse não ter conhecimento da possível participação da mãe no recrutamento de agentes para a CIA após Fidel tomar o poder. Isabel também preferiu não comentar a suposta decepção do casal com a Revolução.
- Na Revolução, tínhamos muitos asilados em casa, incluindo Juanita, que passou um tempo. Mamãe ajudou muito, torcia pela Revolução, ajudou na medida do possível e no que uma embaixatriz brasileira poderia fazer - disse Isabel ao GLOBO.
Na entrevista que Juanita concedeu na noite de domingo à TV Univision para divulgar o livro e revelar seu segredo - que anunciara previamente como sendo 'estremecedor' e uma 'confissão impactante' - a irmã de Fidel revelou como foi convidada para ser agente da CIA, fornecendo informações sobre o governo cubano aos EUA.
- Disseram-me que traziam um convite da CIA, (...) que tinham coisas interessantes para me contar e pedir. Perguntaram se estava disposta a correr esse risco. Fiquei meio chocada, mas disse que sim - afirmou Juanita à TV.
Em 1961, Vasco Leitão da Cunha retornou ao Itamaraty e, em novembro daquele ano, quando o Brasil retomou suas relações diplomáticas com a União Soviética, foi nomeado embaixador em Moscou - e para lá foi enviado no começo de 1962. Em janeiro de 1964 foi chamado a voltar ao Brasil e, em abril, assumiu o cargo de Ministro das Relações Exteriores. Acumulou também a pasta da Saúde. Leitão da Cunha permaneceu no governo até janeiro de 1966. Durante a sua gestão, o Brasil rompeu relações com Cuba, em 1964, e a política externa independente iniciada nas gestões anteriores começou a ser desmantelada".
[Jornal O Globo, 27 de outubro de 2009, 3ª feira, Sessão O MUNDO, página 25].


DOMINUS VOBISCUM !!!