Gabriela Gasparin Do G1, em São Paulo
"A crise econômica na Europa tem afetado os negócios de pequenos empresários brasileiros que atuam no Velho Continente com churrascarias ou empresas de serviços de limpeza e de reformas. Para se adequar à nova realidade em países como Espanha, Portugal e Itália, empresários buscam alternativas de negócios, cortam gastos, reduzem o quadro de funcionários e, em casos extremos, chegam a fechar as portas e pensam em voltar ao Brasil.
Dez dos 44 anos de vida da mineira Lucimar Toledo foram dedicados a uma empresa de serviços de limpeza em Turim, no norte da Itália, que teve as atividades encerradas em fevereiro deste ano após tentativas frustradas da empresária de se manter no mercado. 'Aqui não é mais como antes (...). Na minha área mudou muito. As pessoas estão se arranjando, colocando os funcionários do escritório para eles mesmos limparem, ou, se antes limpavam três vezes na semana, agora limpam só uma', afirma.
No auge, Lucimar afirma que chegou a ter 12 funcionários. Nos últimos tempos, mantinha apenas três. '[A crise] afetou mesmo. Comecei a ter pagamento atrasados (...). Posso garantir que a Itália está desacreditada. Quando começou a crise, há uns três anos, já comecei a notar a mudança', revela.
Atualmente, a mineira está fazendo um bico em um restaurante de comida brasileira, também na Itália, mas afirma que pensa em voltar ao Brasil. 'Estou aqui há 17 anos, dirijo, falo bem o idioma. Nunca vou ficar desocupada, parada, mas estou me preparando para voltar para o Brasil. Porém, como estou aqui há 17 anos, para eu deixar a vida de forma regular, leva um tempo', diz.
Há poucos dias no restaurante, Lucimar diz acreditar que a casa ainda está com as portas abertas porque os italianos dão muito valor para uma alimentação de qualidade. 'Comida, jantar, faz parte da vida italiana', afirma. No cardápio do local estão clássicos da culinária brasileira, como o churrasco, a feijoada e o pão de queijo.
Em Portugal, pratos parecidos são servidos no restaurante do gaúcho Taylor Costa Gonçalves, de 45 anos. Mesmo com o menu apetitoso e música brasileira de fundo – a casa às vezes tem shows ao vivo – os negócios sofreram uma queda de aproximadamente 30% neste ano. 'A crise está assustando a população (...). Em qualquer lugar na Europa fala-se em crise. Mesmo quem tem dinheiro está segurando porque pode ficar desempregado (...), além da perda do poder aquisitivo', afirma.
O restaurante Aquarela do Brasil fica no litoral, em Paço de Arcos, a cerca de 12 quilômetros de Lisboa, uma região turística, ressalta o empresário, que vive no país há 20 anos e abriu o restaurante há 12.
Assim como Lucimar, Gonçalves revela que vem sentido um recuo gradativo nos negócios há cerca de três anos, quando estourou a crise econômica mundial, após o colapso do banco norte-americano Lehman Brothers. 'As perspectivas de negócios não estão muito boas (...) A crise em Portugal instalou-se, mesmo os brasileiros estão saindo, voltando para o Brasil', diz.
Diante das circunstâncias, o empresário criou várias estratégias para se manter no mercado. Uma delas foi investir em um segundo ramo de mercado, deixando um pouco de lados a picanha e a caipirinha: a oferta de comida japonesa no segundo andar do restaurante. 'O sushi entrou com muita força em Portugal e atrai o pessoal mais novo. Por isso fizemos uma sala adequada para o sushi, para não perdermos essa categoria', diz.
Além da nova aposta, Gonçalves também criou um conjunto de medidas anticrise, como fazer preços especiais para grupos acima de dez pessoas e oferecer serviço de delivery em empresas. O quadro de funcionários também foi reduzido de dez para sete pessoas - três voltaram ao Brasil, e as vagas não foram repostas. 'Temos clientes, mas as pessoas vêm menos e o que gastam é inferior.'
Em Madri, o restaurante Novillo Carioca também sofreu uma queda de 15% a 20% nos negócios. 'Nós, apesar de tudo, seguimos trabalhando razoavelmente bem, mas nota-se que as pessoas não vêm com a frequência que vinham antes', afirma Walter Gonzalez Marquez, de 56 anos, que deixou o Rio de Janeiro com a família há cerca de 40 anos rumo à Espanha.
Com cardápio variado, que vai da feijoada ao churrasco e do estrogonofe de galinha ao salpicão e salgadinhos, além do guaraná, o empresário afirma que tem buscado cortar gastos, mas sem perder a qualidade no serviço prestado. O local também traz cantores brasileiros para música ao vivo.
'Este ano tivemos que diminuir duas pessoas. Eu lógico que estou trabalhando, não sou o clássico chefe que não trabalha, e vamos fazendo assim. Quando chega no final de semana, que o movimento é maior, às vezes contratamos alguém para ajudar', explica.
Para o paulista Jerry de Pádua Américo, de 39 anos, que tem uma empresa de reestruturação e reformas de apartamentos há 13 anos na Itália, a Brazuca, o ramo da alimentação aparenta ser o mais atrativo no país. Com queda de aproximadamente 50% nos pedidos, ele investiu na aquisição de um restaurante de comida brasileira em busca de melhores rendimentos.
'Eu senti a crise como todo mundo. Consegui resistir porque tinha muitos clientes, mas meu serviço caiu pela metade', lamenta. Américo afirma, ainda, que os clientes têm atrasado nos pagamentos, coisa que não acontecia antes. Hoje ele conta com cinco funcionários, entre pedreiros, eletricistas e hidráulicos, mas afirma já ter tido 12 empregados.
Com a aquisição do restaurante, o Américo diz estar otimista. 'A única coisa na Itália que eles gastam dinheiro é com comida, faz parte da cultura do país.' O empresário diz que pretende levar uma nova proposta de restaurante brasileiro à Itália, com pratos de diferentes estados brasileiros e a história de cada uma das iguarias.
Em Paris, o empresário Celso de Freitas Andrade, de Santos, litoral de São Paulo, também tem um restaurante de comida brasileira, o Gabriela, em sociedade com um francês. Apesar de ainda não ter sentido os reflexos da crise nos negócios, Andrade afirma que mantém futuros projetos parados. 'Por enquanto não sentimos diferença, mas permanecemos vigilantes', afirma.
Apreensiva com o futuro dos negócios, a mineira Marciane de Castro Moreira, de 30 anos, que também tem uma empresa de serviços de limpeza na Itália, afirma que o custo de vida tem aumentando cada vez mais no país. 'Investi tudo o que eu tinha (...) e o risco de perder tudo é muito alto', afirma. Ela montou a empresa em fevereiro de 2010 e afirma que se mantém no mesmo patamar. 'Não tive redução nos pedidos, mas em um ano, não consegui nada de novo, são sempre os mesmos clientes desde quando abri'.
Há oito anos na Europa, a empresária afirma que sente saudades do Brasil, nem tanto pela crise, mas por estar longe da família. 'Se eu voltasse agora, não saberia por onde recomeçar. Mas tenho intenção de investir no Brasil. É o meu sonho, é o meu país.' "
http://g1.globo.com/economia/pme/noticia/2011/09/crise-atinge-churrasco-faxina-e-reformas-de-brasileiros-na-europa.html
DOMINUS VOBISCUM!!!
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